O vento que açoita meu rosto
levanta a poeira dos cabelos do milho
acariciando os grãos adormecidos
no ouro de cada dia.
Meu grito engasgado
amarga a minha boca
e acorda o pássaro
que me habita as entranhas.
E sua agonia e dor
ferem a minha garganta
enquanto que
com suas asas
me abre os braços em porte de cruz.
E o seu cantar é pura tristeza
quase um lamento
que não cala e
não arrefece
fazendo do meu coração
altar
onde a minha alma
é imolada
dia a dia.
Este pássaro que voar
sair de mim
ganhar altura entre as nuvens
olhar o dorso da grande cobra d’água
solitária
adormecida entre a canarana
nas rebarbas do rio.
O meu pássaro viajante
me dá seus olhos
para eu ver o mundo e a dor
e seu coração
para que eu possa viver mais um pouco
e alcançar as cores
da aurora boreal.