A LUA DE OUTONO EM ISTAMBUL
Ouço as lágrimas passando.
São como marés de sizígia...
Ouço alguém cantando perto,
Tão perto de mim
E eu olhando as cores daquele olhar
Tento compreender o que me diz a canção.
Abra os olhos
É preciso que abra
Veja como suas lágrimas secaram
Esqueça as tormentosas
Marés de sizígia
Mas para escutar ouça
o pensamento, só a mente
É capaz de captar a felicidade
Que diz esta canção
Que veio há mais de dois mil anos
E veio para ficar, assim meio
marota nas asas do vento
Para lhe dizer que as cores
Desse olhar está no céu de Istambul.
Neste céu de Minaretes,
Erguem-se braços de Kutlar, Ersoy, Hikmet
Abrindo as asas do vento
E tirando a poesia... a poesia!
As marés agitam-se
Ondas, chuvas de estrelas, marés lunares
Banhando o pensamento virgem
Que se põe a esperar...
Agora sorvo de seus olhos
Lágrimas doces que saem do seu coração
Para o oásis do meu beijo que foi deserto
Despertando o viver em meu peito
que navegava às madrugadas
Outrora solidão estrelada
Por onde a minha tristeza
passeava lhe procurando
seguindo seus passos de alegria
Mas onde estavas mesmo
musa, menina e ninfa?
Entristecidos, os meus olhos estavam
E se escondiam pelos corredores de mármore
E pelas cúpulas da Mesquita Azul
E do crepúsculo, todas as cores bebiam
Em fina taça de escárnio...
Como uma estrela se escondendo
no profundo azul do céu
meus olhos lhe acariciando
eriçando sua pele
o calor do coração
onde quase inatingível
fui buscá-la para viver
em meu peito...
Oh! Mitológica deusa
Foste uma luz a menos
nas constelações do
Reino de Istambul
Transferindo para sempre
essa ternura estampada
no sorriso do meu rosto.
Com o teu calor trouxeste as noites
mornas do outono
E as ceras e
as resinas tintas de ocre e magenta
Escorreram em profusão
Libertando-me o coração
Que agora vivo, no teu sorriso
se faz eterno em cada verso de um poema de amor.
LÚCIAH LÓPEZ & CONSTAN BARUC
image: Mesquita Azul / Sultan Ahmet Camii