ERAMOS QUATRO (NO BAMBUZAL)
Mais uma tarde quente e nós quatro (Jé, Deka, Weslei e eu) ouvindo Dire Street e planejando o futuro. Então, alguém falou sobre "móveis de bambu" e imediatamente apareceram projetos de cadeiras e estantes. Depois de algumas horas e analises, decidimos fazer umas cadeiras. Juntamos umas ferramentas - um serrote, umas facas e saímos com o "fusca comunitário" em busca do bambu. Sabíamos onde encontrar o material que desejávamos (numa fazenda que fazia fundos com o Bosque Municipal de Paranavaí).
Claro, levamos a fita cassete para continuar ouvindo Dire Street...
Chegando ao local escolhido, deixamos o fusca numa "descidinha" porque a bateria estava arriada e só dava a partida no "tranco". Atravessamos o riachinho que passa pelo bosque e segue pela fazenda, logo a frente, uma cerca de arame farpado - 6 fios de arame com uma distância entre eles de aproximadamente uns 20 centímetros e tão esticados que era quase impossível passar, principalmente para a minha amiga Deka, que estava gravida, ostentando um barrigão de 8 meses. Mas, com a devida ajuda dos meninos, nós duas passamos milagrosamente sem um arranhão.
Uma vez no meio do bambuzal, começamos a 'tentar' serrar, porque ninguém tinha dito o quanto é difícil serrar um bambu! Calor de 38 graus, nada de vento e nós, Deka e eu segurando os bambus enquanto os meninos se matavam tentando serrar.
Estava silêncio! Nem pássaros, nem os bois mugindo, nem o vento - nada!
Então, de repente ouvimos uma barulho. Tec! TEc! Tec! Tec! Tec!... e de novo o silêncio. Olhamos na direção de onde 'supostamente' vinha o tal barulho e não vimos nada, mas um arrepio lascado pegou todos nós e num escapou um pelinho sequer. Eu pensei: deve ser um pica pau! Acho mesmo que falei que era um pica pau, tentando amenizar o medo. E novamente ouvimos o barulho - tec! tec! tec! tec! e parecia estar vindo em nossa direção - arrepiei! Não vi mais nada a não ser um vulto passando por mim - era Weslei. Não entendi nada e percebi que estava segurando o bambu sozinha, porque o Jé, este já estava correndo (e na frente do Weslei!!!).
Larguei o bambu e sai correndo e levando muita lambada nos braços e rosto, porque os meninos iam na frente e soltavam os bambus menores que me acertavam em cheio. Não olhei para trás nenhuma vez...
Quando chegamos na cerca de arame farpado - ainda hoje não sei como foi que passei!! Uma vez no fusca e com as bocas secas (de medo) nos olhamos com olhos arregalados e nos perguntamos: Cade a Deka??!! Putz! Só então percebemos que ela não podia correr. Olhamos para a cerca e num desespero total, voltamos para ajuda-la a passar pelo arame. Desespero total - enrosca camiseta, enrosca a perna da calça, perde o chinelo, pisa nos espinhos mas, nós a arrastamos aos trancos e barrancos e para nossa sorte o fusca pegou no primeiro tranco.
Nunca mais voltamos para buscar as ferramentas e nunca mais falamos sobre o que cada um sentiu ou viu antes de correr pelo bambuzal...
Só temos uma certeza: pica pau, não era!!
Luciah Lopez
Enviado por Luciah Lopez em 14/08/2014
Alterado em 26/01/2015