O fim daquela brincadeira e a minha salvação, eram a mesma coisa e eu percebi um tanto orgulhosa, que não carecia mais de disfarces. A vida se escancarou diante de mim como poucas vezes aconteceu. As conexões mitológicas, as premonições, os dogmas revelaram a amplidão diante dos meus olhos e eu vislumbrei a consciência. Caminhei ereta. Mantive ao meu lado os peixes e suas bexigas natatórias como se fossem bússolas sempre me mostrando o norte de todos os caminhos. Raras vezes olhei para trás, porque eu não existia antes, e, nem mesmo a minha sombra pertenceu ao passado. A partir desse dia entrei e sai daquela paisagem sem receio algum, pois já não éramos pessoas estranhas a quem o destino trata de forma incompreensível. Não. Não somos indiferentes um ao outro, porque vencemos a escravidão das horas e o jugo dos filósofos de meia boca. Minha consciência tornou-se ampla, límpida e as interrogações deram lugar ao riso num processo de cor e luz dentro de mim.
imagem: Vista do Morro Anhangava
Aquarela sobre papel Hahnemühle
Luciah Lopez