A Mortalha de Cada Um
Essa pergunta que não se cala...
O que somos nós? O que fazemos nesta terra se não, expiar nossos pecados, nossa aflições e nossa dor?
Seremos sempre um grande nada, uma grande ausência de verdade, uma grande ausência de fé.
Queria um mundo diferente, mas meu olhar perde-se nesta escória humana que disputa entre porcos e urubus, o pão sangrento de cada dia.
Onde os cães gemem cheios de sarna (chagas vivas) e gatos são mortos sem piedade, onde os bebês são paridos nas ruas, vindos de “lixeiras humanas”.
Meu mundo colorido se desfaz nesta água da vida, parada, estagnada, insossa de tanta dor.
E o que fazemos é também um grande nada, cuspimos, enxotamos e nos benzemos enquanto vivificamos aquele que leva em sua mão a estrela da manhã.
Mas o inferno prolifera, fabricando mortalhas e abre vagas a todo instante enquanto Deus se regozija ouvindo Hendel (celestial).
Só resta então, calar no peito em soluço contido, a vergonha de ser tão impotente.